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terça-feira, 12 de junho de 2012

O ensino da história da África.


Sou professor de história na rede Estadual de São Paulo, desde que iniciei na rede procuro mostrar aos meus alunos a importância do conhecimento do continente africano em todas as suas esferas: geografia, ciências, línguas, artes e história.  Confesso que não é fácil, muitas barreiras devem ser rompidas e ultrapassadas, principalmente na questão religiosa, ponto chave das aulas. Quando falamos em África, um assunto e fato, a religião, em todas as etnias africanas a questão religiosa mistura-se com os demais assuntos, em um país católico como o Brasil, falar de outras religiões não é tarefa fácil

Percebi que os alunos possuem uma curiosidade muito grande sobre o tema, perguntam bastante gostam das aulas, pedem informações. Muitos deles desconsideram toda complexidade por trás dessa questão. Ignoram completamente que o Brasil foi formado por essa matriz maravilhosa, que grande parte de nosso arcabouço cultural vem da África. A visão geral que muitos dos alunos tem até esse momento e de que o negro não contribui com a formação do Brasil, seu papel de escravo não permitiu a construção de uma cultura brasileira. E que por isso, ao logo do processo foram sendo aculturados pelo branco. 

Um exemplo! perguntem para qualquer criança, o que vocês sabem sobre a escravidão, a resposta será unanime: que o negro era escravo, apanhava dos senhores e praticava a macumba. Para as crianças, os adolescentes e também para a maioria dos adultos, a escravidão está resumida ao trabalho escravo do negro, eles desconhecem a história, não sabem que na mesopotâmia, Egito, e outros povos, o branco também foi escravo. Quando comento sobre esse assunto eles ficam admirados. Pois mesmo neste período histórico, muitos acreditam que o negro já era escravo. Logico, que muito dessa imagem foi passada por filmes e novelas que relegam ao negro, sempre, o papel de escravo. 

Enquanto o negro no Brasil for retratado como um eterno escravo, sua cultura e sua religião será sempre a macumba. Alias, primeiro ponto que devemos trabalhar, desmistificar que o termo macumba refere-se à magia negra, o termo é usado em várias etnias africanas, mas sempre com denotação positiva, cura é um dos significados que podemos apontar.

Outro ponto que podemos mostrar e o sincretismo. Costumo contar a lenda dos bejins, e de como eles engaram a morte, recebendo de seu povo o título de orixá. Conto também a história de Cosme e Damião, no final ligo os dois contos, apontando o motivo pela qual esses orixás e os demais tiveram que ser comparados aos Santos Católicos. 

Logico, que uma sala de 40 alunos, sendo 30 católicos e os demais evangélicos muitas vezes o questionamento tende a ser a discriminação, porém fico feliz em ver que mais da metade fica empolgada pelo assunto, e um terço desses alunos me param no corredor para tirar dúvidas ou fazer questionamentos. Isso mostra que a semente foi plantada, e que logo mais irá florescer. A história afro-brasileira foi negligenciada por séculos nas escolas brasileiras, que sempre optaram pelo viés europeu.

O reconhecimento da história africana como elemento construtor da história nacional foi uma luta dos movimentos negros. Desde a abolição esses movimentos lutaram para ter sua história, identidade e religião reconhecidos e ensinados. Agora, nossa missão e mostrar aos alunos a importância desse reconhecimento. Sei que o resultado não será rápido, mais acredito que a médio prazo teremos uma sociedade menos racista e aberta às suas raízes. 

Um comentário:

  1. A África em um continente de um diversidade de culturas sem precedentes, não é muito facil pontar os vários aspectos e formas que contribuiram e contribuem para a humanidade.
    Mais sua colocação é positiva;

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