linguages

terça-feira, 18 de julho de 2017

O Brasil e o mito da democracia racial como política.

Durante muitas décadas o Brasil foi visto como o país da "democracia racial". Aqui, não havia racismo como em outros cantos do mundo, como por exemplo nos Estados Unidos. Essa singularidade cultural criado pelo modelo de colonização ibérica, que teria aceitado a miscigenação, fez do Brasil um "paraíso das raças".

Esta tese foi reforçada no inicio do século XX. Em 1930 o sociólogo Gilberto Freyre (1900-1987) lançou sua grande obra, Casa Grande & Senzala. Apesar de Freyre, oficialmente não ter cunhado o termo "Democracia Racial" seu livro ficou conhecido em todo o mundo por ajudar a difundir a ideia de que no Brasil as raças viviam em perfeita harmonia.

O mito da Democracia Racial começou a ser desconstruído no inicio dos anos 1950, quando a Unesco promoveu no Brasil uma série de estudos, chefiados pelo antropólogo suíço Alfred Métraux (1902-1963). Os estudos coordenados por Métraux contou com as pesquisas de grandes antropólogos e sociólogos brasileiros e estrangeiros, como Florestan Fernandes (1920-1995), Thales de Azevedo (1904-1995), Roger Batisde (1898-1974), entre outros.

É importante ressaltarmos que mesmo antes das pesquisas realizadas pelos Unesco constatarem que o Brasil não era uma Democracia Racial, os movimentos negros já vinham denunciando e lutando contra as diversas formas de discriminação vigentes no país. Podemos citar como referência para a questão apresentada a importante participação de Abdias do Nascimento (1914-2011) que denunciou a discriminação racial, inclusive em órgãos internacionais.

Quando o assunto é debatido o que muitos estudos esquecem de mencionar é a política de branqueamento promovida pelo estado no inicio da república. Além, das diversas leis criadas em algumas regiões do país que excluíam os negros do convívio social. Em São Paulo por exemplo, as Posturas Municipais regulamentavam a vida na cidade, em algumas delas fica evidente o preconceito da sociedade da época, proibindo alguns negros de frequentarem certos locais na cidade, de exercerem alguns empregos e até de possuírem comércio.

Mesmo no meio político, existem estudos que mostram que o movimento negro não tinha apoio político para lutar por algumas causas da população negra. Até o partido comunista negava apoio a causa dos negros, acusando o movimento de dividir a luta do trabalhador e enfraquecer  a luta de classes, sobre este tema a tese de doutorado de Ramatis Jacino (2012) sobre "O negro no mercado de trabalho em São Paulo 1912/1920" é um trabalho esclarecedor.

Desta forma, ao pensarmos na questão da democracia racial e sua história, não podemos deixar de avaliar o contexto de sua consolidação, ou seja, o interesse do própria país, pois segundo o historiador norte-americano Jerry Dávila (2011) em Hotel Trópico: o Brasil e o desafio da descolonização africana (1950-1980) a Democracia Racial foi tratada pelo Estado brasileiro como política internacional, servindo por décadas aos interesses políticos internos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário